Disforia Social
Quando você interage com homens bem masculinos, você está nervoso. Você realmente não sabe ou não quer como levar uma conversa com eles. Você sente uma expectativa, vinda deles, de ser algo que você não é. Você quietamente os julga por serem muito "bro" e "básicos".
Ser vulnerável ao redor de homens estranhos é aterrorizante. Você se sente ansioso quando você tem que usar o banheiro masculino. Trocar de roupa em vestiário é inimaginável. Você não sente propriedade desses espaços. Você é bem preocupado com homens estranhos te observando, ou [observando] o seu corpo.
Você é inábil ao toque social. Você pode desejar toque, como a maioria das pessoas, mas você sente que você é quase completamente incapaz de recebê-lo calorosamente. Quando você dá um abraço, algo sobre o seu torso sente como se fosse *ofensivo* aos outros. (O que quer que seja, eles não notam.)
Você não consegue falar sobre sexo, ou atração, ou corpos de pessoas pelas quais você não deveria ter atração. Mesmo quando seu comentário é solicitado, tudo que você poderia dizer parece indesejado e inapropriado, mesmo se isso seria okay vindo de outra pessoa. Você congela.
Você luta mesmo para expressar inocentes elogios físicos aos outros como "Lindo!" Você está hiper-vigilante que virtualmente qualquer coisa pode soar como atenção sexual indesejada [quando o comentário] vem de você. Você sente que a sua atenção é única e universalmente indesejada.
Quando uma amiga expressa desaprovação, você se sente devastado. Você se esforça para obter a aprovação delas de volta. Você está preocupado em ser visto como o "casa legal" dissimuladamente sorridente todos os quais você detesta. Você simplesmente valoriza mais a opinião das suas amigas por razões que você não consegue explicar.
Toda a Disforia de Gênero social orbita um conceito central: qual gênero as pessoas acreditam que eu sou? A disforia social é sobre como o mundo externo te percebe, como os outros te falam, e como se espera que você fale com eles. A aplicação disso e experiência da disforia social difere entre antes e depois da pessoa trans se conscientizar sobre seu próprio gênero.
Enquanto ainda se está no escuro, o único despertar/sinal é que algo parece errado na forma como você interage com as suas interações com outras pessoas. Pessoas do seu gênero designado ao nascimento parecem interagir contigo de formas que não lhe parecem naturais. Seus comportamentos e maneirismos geram uma sensação de estranheza e surpresa, enquanto as interações com indivíduos de seu verdadeiro gênero parecem mais fáceis. Você se identifica/relaciona com pessoas mais próximas de seu verdadeiro eu.
Por exemplo, pessoas trans AMAB podem sentir muito desconforto em grupos de homens. Eles podem parecer fora de lugar e elas tem dificuldade para se encaixar entre seus pares homens. Interações sociais masculinas não vem naturalmente para elas, e tentar emular o comportamento de seus amigos homens gera estranheza. Elas podem se sentir mais atraídas a amizades com mulheres, mas ficam frustradas com as dinâmicas sociais e heteroafetivas que entram em jogo e as previnem de formar relacionamentos platônicos. Isso é se as mulheres estiverem abertas a formar essas amizades. As AMABs podem se encontrar profundamente machucadas quando mulheres fogem delas por princípio.
A sensação de erro intensifica conforme a pessoa se torna mais e mais ciente de sua própria incongruência e, ao perceber quem realmente são, essa sensação de erro assume uma nova forma. Para pessoas transgêneras binárias, isso frequentemente pode ser sobre a intensa necessidade de ser vista como seu verdadeiro gênero, seja ele homem ou mulher. Algumas pessoas transgêneras não-binárias experienciam isso mais como uma euforia ao serem vistas como nem homem nem mulher e portanto serem referidas apenas de formas não generizadas, ou ao serem lidas como diferentes gêneros por diferentes pessoas na mesma circunstância. Algumas experienciam euforia quando as outras pessoas são incapazes de ler seu verdadeiro gênero e tornam-se confusas.
Disforia social é onde pronomes e misgenerização entram em jogo; ser tratada por um pronome generizado como ela, ele, dele, dela que não é o pronome que alinha com o nosso gênero é extremamente desconfortante. Concedido, isso é verdade para todas as pessoas, incluindo as cisgêneras, mas onde uma pessoa cis pode se sentir insultada por ser misgenerizada, uma pessoa trans se sentirá machucada. É como unhas numa lousa, ou palha de aço sobre a pele. Ouvir o pronome errado é um lembrete de que a pessoa com quem você está falando não te reconhece como o gênero que você realmente é.
Pronomes de gênero neutro também podem causar ansiedade em pessoas transgêneras binárias se usados de maneira que mostra claramente que o interlocutor está evitando o pronome que corresponde a pessoa trans. Isso é frequentemente uma indicação de que a pessoa foi lida como trans, e o interlocutor lhe tratando não sabe sabe quais pronomes ela usa. Perguntar por pronomes pode resolver a situação imediatamente, mas o paradoxo é que mesmo nesse cenário, ser perguntada sobre seus pronomes pode induzir disforia por ter sido lida como trans. É tipo um ardil-22.
O pronome inglês they usado no singular também pode ser usado maliciosamente quando um indivíduo transfóbico se recusa a usar o pronome correto, mas sabe que ele se encrencará por usar os pronomes errados. Tom e intenção importam muito.
Nota de tradução: o que foi dito no parágrafo anterior provavelmente também se aplica ao pronome neutro elu e suas variações, mas isso não está no texto original.
O mesmo se aplica a nomes. Ser chamado pelo nome de nascimento (nome morto) ao invés do novo nome pode gerar sensação de invalidez quando feito ignorantemente, e sensação de desdém quando feito intencionalmente.
Isso pode também se manifestar como alegria ou embaraçamento ao ser percebido como seu verdadeiro gênero enquanto ainda vivendo como seu gênero de nascimento.
- Uma pessoa AMAB sendo tratada, com intenção de insulto, como menina, mas lhe causando rubor nas bochechas ao invés de raiva.
- Uma pessoa AFAB sendo chamada de senhor e sentindo-se melhor por isso.
A ironia em “mulheres trans imitam esteriótipos de gênero” é que a única vez em que EU IMITEI esteriótipos de gênero foi quando eu era forçada a interagir com homens. E eu fiz isso por uma sensação de sobrevivência e anseio de tentar me encaixar.
Eu não transicionei em esteriótipos…eu transicionei para fora deles.
O desconforto gerado por disforia social pode pressionar uma pessoa trans a agir e apresentar-se de forma exagerada para tentar convencer o resto do mundo que ela realmente é quem ela diz ser. Pessoas transfemininas podem se concentrar em maquiagem e roupas femininas, e tornar-se mais quiera para parecer mais recatada, e falando em voz mais aguda, Pessoas transmasculinas podem apoiar-se em estilos de roupas masculinas, andar mais alto, suprimir apresentações de emoções, começar a falar mais alto e grave.
Disforia Física vs Social
Algumas características físicas que podem causar disforia o tempo inteiro para algumas pessoas podem manifestar-se apenas como disforia social para outros. Por exemplo, algumas pessoas podem apenas ser bem autoconscientes sobre sua aparência física porque ela lhes causa serem misgenerizadas ou lidas como trans e sentem-se completamente confortáveis quando interagindo em ambientes onde elas são sempre listas e tratadas como seu verdadeiro gênero.
Eu, mim mesma, não tenho disforia física quanto a minha voz. Eu na verdade gosto bastante de cantar em meu barítono natural e quando eu estou em casa com apenas a minha família eu deixo a minha voz relaxar. Quando estou em público, porém, ser capaz de falar em uma voz feminina tem um papel fundamental para eu ser vista como mulher por estranhos, então eu coloco muito esforço em treiná-la. Minha voz feminina se ativa no instante que atendo o telefone ou saio da casa, nem é uma coisa consciente.
“Uma de nós!”
Um fenômeno surpreendente e bem curioso é que pessoas transgêneras armariadas tem uma tendência de encontrar umas as outras sem nem perceber o que fizeram. É um padrão engraçado que eu tenho ouvido inúmeras vezes: uma pessoa do grupo de amigos se percebe trans, inicia a transição, e isso inspira outros membros do grupo a também perceberem que são trans e a também saírem do armário.
@Whorrorer eu posso conhecer uma mulher cis por um ano e não sentir que sou tão próxima dela.
eu posso conhecer uma mulher trans por três horas e sentir que eu a conheci pela minha vida inteira.
Pessoas trans subconscientemente tendem a gravitar para amizades entre si. Tando por uma necessidade de pares que pensam e agem similarmente sem julgamentos, e por uma laços de ostracização social. Isso, claramente, não é exclusivo de pessoas trans e ocorre com todos os tipos de pessoas queer, mas a forma que isso tem efeitos de espalhamento é bem poderosa. É bem similar com a forma que um grupo inteiro de amigos se casa e tem filhos em resposta a um dos membros do grupo se casando e tendo filhos.
Pessoas trans geralmente também continuam a auto-selecionar seus grupos pós-transição, como se simplesmente entendemos uns aos outros melhor que pessoas cis conseguem. Há uma energia que ocorre quando um grupo de pessoas trans se encontra em um lugar, a sala fica carregada de camaradagem e comiseração. Nós temos tanto em comum em nossas histórias, tantas experiências compartilhadas, que, salvo conflitos de personalidade, nós instantaneamente nos juntamos.